2 de abr. de 2008

Digimon x Ben 10

Gosto muito de alguns desenhos do Cartoon Network. A maioria daqueles desenhos tem referências tão adultas que os pequenos perdem quase 100% da graça às vezes, mas os adultos podem se divertir horrores.
Mas também tenho que reconhecer as péssimas influências que eles exercem sobre as crianças. É um festival de valores morais dúbios e equivocados, que caem como uma luva nos tempos atuais, onde ninguém dá valor a mais nada.
O Ben 10, por exemplo, o herói mais badalado do momento, é um verdadeiro terror.
É burro (e se orgulha disso), comete as maiores besteiras se achando o maioral só porque tem o relógio que o transforma nos alienígenas, usa seus poderes da forma mais leviana e irresponsável possível, desobedece seu avô, desrespeita sua prima (alvo preferido de suas brincadeiras de mau gosto) e só vence no final por puro acaso ou desejo do roteirista.
Mas o pior de tudo: ele não estuda. Ele odeia ir para a escola e detesta livros ou qualquer tipo de leitura. Fica rodando o país no furgão junto com seu avô e prima, sem ir para a escola. Num dos episódios, o vilão prende sua mente em seu pior pesadelo: a escola.
Tudo bem, é ficção, dirão alguns, mas o que me assusta é que essa é a ficção padrão americana, onde as crianças nos desenhos são sempre burras ou malandras e detestam a escola. Ser estudioso é ser nerd, CDF, e isso é sempre motivo de chacota nos desenhos "made in EUA".
Não deve ser à toa que, como já disse Carl Sagan (ler "O mundo assombrado pelos demônios"), os EUA estão emburrecendo ("Stupid White Man"?).
Nem vou entrar no mérito de falar do Billy (de "As terríveis aventuras de Billy e Mandy"), que gostaria de ter dois narizes para ter mais um lugar de onde tirar meleca, ou do comercial do toque de celular com som de peido...
Diante do quadro tenebroso, resolvi mostrar o outro lado da moeda (ou do planeta): baixei e viciei o guri no Digimon.
O Digimon veio na esteira de Pokemon, com o intuito de vender brinquedos e games, claro, como quase toda a animação feita no Japão. Mas apesar disso, os valores culturais deles estão sempre lá, de forma mais ou menos explícita. Mas diferente do seu clone, eu gosto muito mais do Digimon, e vou dizer o porquê.
Como toda boa história, Digimon tem início, meio e fim, continuidade, evolução e reflexão. As crianças se desentendem e ao final compreendem que somente juntos podem resolver os problemas, e que brigar não resolve nada. Quem é medroso, egoísta ou arrogante aprende a ter coragem, generosidade e humildade.
A continuidade exerce papel importante nessa evolução, pois um episódio tem continuação e teve um prévio, como numa novela, não existindo episódios isolados ou independentes, gerando o interesse contínuo (tem até resumo do episódio anterior e "cenas do próximo capítulo").
Todas as crianças, ao se apresentarem aos outros, dizem em que escola e série estudam, demonstrando orgulho por estudar e a importância da escola em suas vidas. Um dos meninos inclusive, sente saudades da escola e de fazer sua lição de casa em seu quarto.
Tem também um irmão mais velho que se preocupa e faz de tudo para ajudar e proteger seu irmão mais novo, mesmo eles sendo filhos de pais separados e que não vivem juntos.
Alguns liberais podem torcer o nariz por isso, alegando ser uma forma de forçar conceitos, quase uma lavagem cerebral. Mas eu pergunto: educa-se uma criança para quê? Para agir de forma positiva na sociedade ou para agir como quiser para que a sociedade lhe dê o que quer, quando quer e na forma que quer?
E um desenho que mostre inconseqüência, irresponsabilidade, falta de educação e desrespeito pelos outros, também não está passando seus valores, usando a sedução do mais fácil, do mais rápido, do mais engraçado?
Entre os dois extremos, qual seria o mais positivo para a manutenção da sociedade onde todos nós vivemos?
Bom, pelo que tenho visto, a maioria prefere o "estilo Cartoon de ser" ("A gente faz o que quer", segundo a nova campanha publicitária do canal).
Mas eu sou brasileiro (para meu desgosto), e não desisto nunca!

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