9 de fev. de 2009

Concentração de renda

Uma coisa que eu costumo dizer, e que vale ficar registrado, até como um retrato das minhas crenças no momento, é que a concentração de renda no Brasil é simplesmente inevitável.
O porque é também igualmente simples: taxa de natalidade diferenciada.
É fato que a taxa de natalidade é diferente entre as diferentes classes sociais no país.
Em linhas gerais, quanto mais bem sucedida a pessoa, menos filhos tem (há exceções à regra, é claro, mas não devem alterar significativamente o quadro geral). Isso é fato, porque a pessoa com mais grana tem mais condiçoes de curtir a vida, e por conseguinte, menos interesse em ter o seu tempo tomado por filhos. Também dispões dos melhores meios contraceptivos (incluindo o aborto, ainda que ninguém comente). E também, para ter mais dinheiro ou justamente por tê-lo, a pessoa precisa se dedicar a isso, gastando tempo e energia (não estou falando de gente que herda fortunas milionárias sem fazer porcaria nenhuma de esforço). Conclusão: baixas taxas de natalidade.
Já as pessoas munidas de menos recursos (vulgo "pobres" ou "miseráveis", como gostam os geógrafos), vivem sob a influência perniciosa das religiões do "Crescei e multiplicai-vos", tem menos recursos contraceptivos, menos cultura geral, menos oportunidades de crescimento pessoal e de lazer. Logo, uma das suas principais fontes de prazer é justamente o sexo, gratuito e disponível logo ali do lado. Conclusão: altas taxas de natalidade.
Imagine a seguinte situação: casal classe média, com patrimônio de R$ 200 mil (nada demais, se formos pensar bem), cada qual contribuindo com a sua parte, tem apenas um filho. Esse filho, herdando o patrimônio dos pais, casa-se com uma mulher na mesma situação (hipotética) e tem apenas um filho. Resultado: o patrimônio construído por 4 (quatro) pessoas acaba na mão de apenas 1 (um).
Agora, imagine a situação oposta: um casal pobre, sem recursos para garantir seu próprio sustento, tem 4 filhos. Sem herdar nenhum patrimônio de seus pais, cada filho faz mais 4 filhos. Ainda que a quantidade de filhos seja um pouco menor que 4, a miséria dos pais se multiplicou ainda mais nos filhos. Resultado: uma produção em série de pessoas sem recursos, predispostas a repetir o ciclo de miséria da geração anterior. Para agravar a situação, a falta de recursos, meios e cultura, leva as mulheres pobres a terem filhos com pouca idade, diminuindo ainda mais as chances de estudo, trabalho e aumento da renda.
Resultado final: concentração de renda dos mais ricos, multiplicação da miséria entre os mais pobres.
Claro, não sou ingênuo! O capitalismo exacerba ainda mais esse movimento, a falta de políticas afirmativas e de fomento impede a mudança, e a apatia dos mais abastados agrava o quadro.
Mas é justamente por isso que eu sinto vontade de vomitar na cara dessas criaturas hipócritas que não aceitam sequer discutir sobre a ampla distribuição de métodos contraceptivos desde a pré-adolêscencia (em suma, desde pouco antes do início da fertilidade), porque acham que isso induz ao sexo prematuro (como se não ter uma camisinha em mãos fosse detê-los). Que acham a vida de um embrião mais importante do que a sua destinação final ("A vida é potencial! Vide o Obama!". Blá-blá-blá! Vide Hitler, Stalin, Pol Pot e Bush, que tal?), mas no fundo, não movem uma palha para ajudar as adolescentes grávidas a criar seus bebês e lhes dar recursos para crescerem. Suas crenças são mais importantes do que os fatos que vêem diante de si.
O pior de tudo é que na maioria das vezes, justamente as pessoas que mais sofrem com essa situação, são as que mais combatem as medidas que poderiam melhorar esse quadro. Massas de manobra de religiosos inconseqüentes e protegidos pela estrutura de suas instituições (já viram padre ou pastor passar fome? Só se for em greve de fome ou jejum voluntário) ou malucos fanáticos, gente perturbada pela falta de perpectiva no hoje, almejando uma glória inexistente nos céus depois da morte.
É por coisas assim que eu realmente fico perplexo diante do otimismo e da esperança que pessoas como Carl Sagan professam em seus livros, apesar de todo o seu ceticismo.
Eu realmente me pergunto: como ele consegue? Eu já desisti.