16 de jul. de 2007

Sonho realizado II

Pois então, terminei de assistir à Saga da Patrulha Estelar contra o Cometa Império e fiquei muito feliz.
A série mostra sinais de envelhecimento (claro! É bem antiga, a danada), com uma visão muito poética e mesmo ingênua do espaço, e uma animação e design de personagens bastante ultrapassado. Na verdade não é bem assim, já que o cara - vulgo Leiji Matsumoto, fez aqueles clipes do Daft Punk com o mesmo design, só que com melhores recursos, e ficou duca!
Mas eu consegui acompanhar tudo com o mesmo entusiasmo dos velhos tempos, fato notável num mundo em que quase tudo fica velho e obsoleto depois de poucos meses.
Alguns problemas na série, que já me aborreciam na época, só se reforçaram com a idade, claro, embora não tenham estragado o barato. Vamos a eles:
  1. O Yamato é indestrutível! Toma zilhões de tiros, bombas, mísseis, colide com outras naves e permanece intacto. Tá, exagerei. Quebram-se um monte de coisinhas frágeis, como antenas, metralhadores e canhões, mas a nave, mesmo, tá lá, inteirona. Parece uma peneira de tão furada mas continua com os motores a mil por hora. As naves inimigas, em compensação, parecem ser feitas do mesmo papelão e isopor usado nos cenários do Ultraman: encostou, quebrou!
  2. A Terra tem a tecnologia mais avançada do universo! O Yamato tem o motor de ondas, faz viagens por dobra (warp), tem um canhão de ondas que destrói planetas, canhões de impacto com alcance mais longo e poder de fogo maior que o das naves inimigas, além de caças de apoio mais rápidos e poderosos. Um tirinho da Yamato ou um míssil dos caças deles destroem naves gigantescas, enquanto o Yamato, sob uma chuva de tiros, nem arranha. Tá, exagerei de novo, mas no máximo, sai um monte de fumaça e olhe lá (fumaça no espaço... legal, né? Lembra o que eu falei de "visão poética do espaço" lá no começo do texto?). E isso porque os inimigos são sempre impérios galácticos tidos como ultra-poderosos e invencíveis. Vai a Yamato lá, sozinha e dá um cacete em todo mundo.
  3. A solidão faz a força! Mesmo com um monte de gente na tripulação, é só meia dúzia de personagens principais que resolve tudo (o temível Cometa Império, coitado, tomba por conta de três gatos pingados que entram na fortaleza invencível e detonam tudo com uma bombinha tipo C4). A maioria dos coadjuvantes morre sem destaque. Alguns dos principais morrem de forma dramática, "sacrificando-se pela paz na Terra".
  4. Papo de macho! Mulher no Yamato não tem vez. Tirando as alienígenas que são o mote principal nas duas primeiras temporadas (na terceira ela aparece do meio pro final), a tripulação do Yamato só tem a Yuki, e ela é cacho do Kodai. Fruto da mentalidade machista nipônica, ela tem o seu destaque somente quando age como esperado de uma mulher japonesa: sensível, recatada, devotada. Nada de guerreira. Hoje em dia, essa visão mudou bastante, mas de um modo geral, a mulherada nos animes de hoje ainda tem poucos papéis de destaque, exceto como objeto sexual dos homens. Triste. Deviam ter mais lições com o Miyazaki. Ah, e a Yuki é "apalpada" o tempo todo pelo robô Analyser, um tarado de marca maior.
  5. O Japão dominou o mundo! Num hipotético futuro onde as guerras e diferenças locais foram resolvidas, o governo é mundial e centralizado e os esforços são todos feitos mundialmente, todos os personagens são japoneses. Tudo bem, eu sei que o anime foi feito em cima do sentimento de orgulho nipônico, com a ressurreição do finado cruzador japonês Yamato, tido como a maior arma de guerra já criada (na época, pelo menos) e que afundou sem fazer diferença na história. Mas que fica estranho aos ouvidos, ah, lá, isso fica sim. E pensar que hoje em dia alguns linguistas japoneses temem pelo fim da língua natal, dado o avanço do vocabulário inglês (americano, claro) no cotidiano do povo japonês, onde muitos jovens idolatram o "american way of life".

Mas tem umas coisas legais nesse anime, que é difícil ver por aí, em tempos do politicamente correto:
  1. As pessoas morrem mesmo, tomam tiros, sangram e tudo mais. Nada de disfarce.
  2. As personagens não são tão preto e branco e todos tem lá seus motivos. Não é o mal pelo mal, como se vê em quase todos os desenhos americanos. Um dos grandes vilões reconhece suas falhas e inicia uma busca por redenção. Fica claro também que mesmo os mocinhos ou vítimas (no caso os terráqueos) não escapam de ter lá suas culpas e problemas, ficam com raiva e partem em busca de vingança também. Há uma crítica direta ao materialismo na Terra, em detrimento de todo os esforços feitos para se chegar a um futuro melhor, crítica que cabe ao Japão e ao resto do mundo hoje. E o médico da nave, então, que bebe saquê como se fosse água (absurdamente transfromado em leite, na dublagem nos EUA).
  3. O espírito de sacrifício da tripulação, da devoção ao seu capitão e a inspiração para lutar pelo que for melhor para todos. Coisa rara num mundo tão cínico quanto o que vivemos.

Enfim, foi uma volta ao passado, que me deixou profundamente contente, especialmente por me fazer relembrar de emoções enterradas a tanto tempo, e me lembrar do garoto que eu era e do futuro que vislumbrava.
Pra quem ficar inspirado, segue a romanização da letra da abertura:

Uchuu Senkan Yamato

saraba chikyuu yo tabidatsu fune wa
uchuu senkan YAMATO
uchuu no kanata ISUKANDARU e
unmei seoi ima tobidatsu
kanarazu koko e kaette kuruto
te wo furu hito ni egao de kotae

ginga wo hanare ISUKANDARU e
harubaru nozomu
uchuu senkan YAMATO

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