19 de dez. de 2007

Planetary

Sempre vi umas edições aqui e ali, da Pandora Books e agora da Pixel, com essa série Planetary, mas nunca me empolguei, sabe. Era uma leitura muito pesada para ser feita ali, em pé, na banca de jornal, em estilo leitura dinâmica, e não era nada parecido com os demais quadrinhos de super-heróis descartáveis que pululam nas bancas. Os desenhos me agradavam, mas eu não tinha tempo (nem dinheiro) para degustar aquilo.
Isso até uma edição recente da Pixel Magazine que traz a história sobre uma cápsula que cai na Terra, após 150 anos em órbita, entre a Terra e a Lua. Até aí nada demais, não fosse o caso de que aquilo é uma referência direta ao livro Da Terra à Lua, de Júlio Verne.
Eu achei demais aquilo. E não é uma referência literal, explícita, "nomes aos bois". Está lá, pra quem tiver lido o livro e gosta de boa literatura. A maioria do pessoal é capaz de passar batido. Se bem que, depois de baixar a série toda, percebi que o público do Planetary não é o leitor convencional de quadrinhos descerebrado.
A série amarra referências pop, seja cinema literatura ou quadrinhos, com filosofia, psicologia e ciência, compondo uma trama deliciosa e muito complexa, para ser lida com calma e dar aqueles sorrisinhos de canto de boca ao sacar a referência implícita. Parece que a Pixel Magazine tenta trazer alguma coisa a respeito das referências, para ajudar o leitor (o que eu acho um desserviço e uma apologia à preguiça intelectual).
O que mais me encanta é que as referências brincam com essas coisas, bem conhecidas ou não, mas em nenhum momento as desrespeitam. Quarteto Fantástico, Liga da Justiça, Constantine, Tarzan, Godzilla e companhia, desfilam pelas páginas da série de forma elegante e diria até, muito respeitosa. Uma verdadeira homenagem à cultura pop, sem pedantismo ou arrogância.
Apesar de estar correndo o risco de levar pedradas de algum fã mais exaltado, diria que o trabalho de Warren Ellis em Planetary é superior a muitos dos trabalhos de Allan Moore, justamente por ele assumir uma postura mais humilde e até mesmo carinhosa com as referências que usa, em comparação a Moore, que às vezes deixa transparecer um certo desdém e alguma arrogância quando o faz.
Recomendo fortemente a leitura, para quem ainda acredita que quadrinhos podem ser uma diversão sofisticada para gente inteligente.
Ah, e os desenhos de John Cassaday são simplesmente magníficos. E pensar que eu só reparei nele no arco que ele fez com Joss Whedon nos X-Men.

Um comentário:

Anônimo disse...

Estava seguindo o mesmo caminho que vc, lia nas bancas, em pé mas sempre com aquele sabor que tinha que ler com mais calma para apreciar a obra.
Valeu mesmo ter esperado um tempo para conseguir a obra inteira.