18 de jan. de 2007

A arte da descrença

Depois de longos anos crendo em uma série de coisas, eis que me encontro descrente de quase tudo.
Esse processo começou, não por coincidência, junto com a faculdade de Pedagogia, meu primeiro contato com a área das Humanas. Desde o ensino fundamental, já tinha inclinação e seguia para a área das Exatas, mais particularmente a eletrônica, e finalmente a Análise de Sistemas.
Num comparativo superficial, vejo hoje que, se por um lado as Exatas estimulam o raciocínio lógico, por outro lado inibem de forma profunda o senso crítico (ou eu é que sou um banana mesmo). Em tese, as Humanas ensinam a pensar e as Exatas a calcular, ou sejam, "bitolam".
Pois então, só com a faculdade de Pedagogia é que comecei a "pensar" de verdade, a exercer a criticidade, o que fatalmente me levou a questionar as minhas "verdades". E, feliz ou infelizmente, poucas delas duraram mais que um "round".
O primeiro choque, na Pedagogia, foi abordarmos temas sobre diversidade sexual, mais particularmente a homossexualidade, quando acabei por concluir que as religiões são completamente castradoras, pela simples imposição de dogmas sem explicação. "É a verdade", dizem. Daí, ao analisar minhas próprias convicções religiosas, pouca coisa se manteve.
O segundo choque foi ler o livro, que sempre considerei "perigoso" para mim, devido ao tema e a uma certa idolatria que nutro pelo autor, "O Mundo Assombrado pelos Demônios", de Carl Sagan.
Diria que foi o tiro de misericórdia na minha fé. Pouca coisa sobrou depois disso, incluindo não só minhas convicções, vivência e dedicação religiosa, como também as atividades voluntárias que tinha, todas elas vinculadas à religião.
Pois bem, segundo um amigo, esse processo é libertador e em tese, eu deveria estar me sentindo muito bem comigo mesmo, livre do peso de anos de repressão, "lavagem cerebral" e idéias irracionais. Certo?
Errado!
Eu não estou melhor. Estou mais desequilibrado do que de costume, mais indisciplinado, mais ausente, mais frio, mais egoísta, mais ranzinza, mais impaciente, mais exaltado, mais nervoso e completamente sem rumo, sem ânimo, sem esperanças e vivendo poucos momentos bons.
Não era para eu me sentir melhor? Pois então, alguém sabe me dizer o que houve?
O problema é que não consigo mais "desativar" o "modo racional" e voltar ao "módulo bitolado", e portanto, não dá mais pra ser como era.
Por conta disso, estou correndo atrás de terapia para ver se encontro motivos que justifiquem eu estar vivo, fazer planos, me importar com as pessoas e sonhar com um futuro. Porque do jeito que está, prevejo uma vida muito, mas muito sem graça, triste e sem sentido pelos próximos anos.
Eu até quero crer, mas sem provas racionais, vai ficar difícil. E se há provas, não há fé, certo? E convenhamos: "provas" nunca foram o forte de nenhuma religião. E dado o seu histórico, eu não me sinto nem um pouco interessado de buscar respostas nelas.
E agora, hein?

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