23 de out. de 2008

Tempos Modernos

AVISO: O texto é longo e vai te cansar. Acredite.

Tem coisas que realmente me tiram do sério e me fazem temer pelo futuro da humanidade. E não, não estou falando de "Uma Verdade Inconveniente" ou similares.
Eu vi este post no Kibeloco e segui para o link da matéria original e fiquei com pena, com raiva, com tristeza, com indignação, mais um monte de outras coisas juntas.
Tá certo, a Halle Berry é um desbunde, maravilhosa, gostosa e tal. Mas convenhamos: a mulher ganha milhões de dólares simplesmente para ser assim mesmo. Não é o caso de ela ser uma super executiva de multinacional controlando orçamentos de bilhões de dólares e por acaso, ainda ser bonita. Ela ganha o que ganha justamente por ser bonita (boa atriz não é bem o caso, apesar do Oscar). Então, caso não fosse o que fosse (linda), estaria ela em posição de fazer as afirmações que faz?
Ela está mais sexy depois de ser mãe? Claro! Ela pode e deve pagar para isso, ela tem que ficar sexy e linda, senão não teria mais trabalho. Ela tem dinheiro e tempo de sobra para gastar com o que há de mais moderno no mundo da estética: cremes, tratamentos, injeções, lipos, plásticas, botox, academias, personal trainers e Photoshop (sim, baby, muito Photoshop também). Isso sem falar em um verdadeiro exército de babás e profissionais que cuidam dela, da casa, das roupas, das contas, e dos filhos, claro.
Mas o fato é que, para a imensa maioria das mulheres comuns, a gravidez e o período posterior são muito difíceis, de adaptação, envolvendo noites mal dormidas, incômodos de todo tipo, preocupações mil com o bebê, mais as tarefas domésticas que só aumentaram. Isso sem falar em um corpo que não corresponde mais à auto-imagem que tinham e que pode estar inchado, flácido, com estrias, celulite, gordura e, muito provavelmente se for no Brasil, uma bela cicatriz acima do púbis.
Sexy? Acho que as mulheres nessa fase nem lembram o que é isso! São golpes sucessivos que abalam a auto-estima de qualquer um. E vem a linda e rica guria sair em capa de revista deitando falação de que é uma mamãe mais sexy do que nunca? Sem querer ofender, mas: VÁ TE CATAR! Só falta a Paris Hilton sair dizendo que se preocupa com a situação das mulheres afegãs.

Outra coisa bizarra é o fato de ela se declarar responsável por seus orgasmos (adorei a zoação do Tabet com isso). Oras, e ela esperaria o que? Que a responsabilidade pelo seu prazer fosse do homem com quem ela esteja? Não é ela a mamãe sexy super-poderosa? Não é ela que namora garotinhos modelos de 20 e poucos, mesmo ela já passando dos 40? Com tanto poder nas mãos, se ela deixar o orgasmo dela para que outros cuidem, ela estará sendo no mínimo irresponsável. Tem mais é que tocar seu pianinho e se resolver sozinha, a rainha da auto-suficiência.

O fato é que a ascensão social das mulheres solteiras está levando a um revanchismo contra os homens, numa inversão de papéis que não vai levar a nada, a não ser a um esvaziamento das relações, um joguinho bem no estilo Tom e Jerry, em que um tenta acertar o outro. E pra quê?

Já está mais que provado que uma relação que funciona se faz com duas pessoas que se gostam, que se respeitam e que querem dividir igualmente a responsabilidade sobre suas vidas. Mas sim, se você não tiver prazer na relação (ou orgasmos, para ficar no aspecto sexual da relação), a responsabilidade é toda sua (de cada um, individualmente). É o insatisfeito que deve se abrir e dizer que não está satisfeito. Mas corrigir isso exige ação, discussão, ponderação, apoio e mais um monte de outras coisas, em geral de ambas as partes. Pessoas que se gostam e investem na relação, não precisam ser responsáveis sozinhos. Eles criam uma parceria, aceitam uma co-responsabilidade e buscam juntos o prazer. A isso se dá o nome de relacionamento.
O que é bem diferente de arranjar um mero consolo de carne para se esfregar ou um banco de esperma pessoal para engravidar.

Sim, eu sei. O machismo ainda impera e a imensa maioria das mulheres ainda sofre pressões desumanas e cruéis. A maioria ainda depende financeira, emocional e intelectualmente de homens que abusam delas, física, verbal e sexualmente. E é justamente por isso que a postura de enfrentamento vazia dessas divas modernas auto-suficientes só torna o contraste mais evidente e a realidade dessas outras mulheres muito mais triste, não provocando as discussões necessárias para evoluirmos em direção a um futuro mais feliz para ambos os sexos.

Felizes das pessoas que procuram o equilíbrio em relações sadias e igualitárias, sem se incomodar com os ensinamentos desses novos gurus de Hollywood.

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